Custamos a acreditar que aqueles filmes de terror, que apontam para um fim do mundo apocalíptico, onde as pessoas não têm acesso aos alimentos, água potável e oxigénio para sobreviver, possam de fato acontecer. Se você é uma pessoa que dúvida desse fim do mundo, eu tenho uma péssima notícia: nós já estamos neste caminho. Não sei se, necessariamente, no fim do mundo dos filmes, ou pior que eles, mas a verdade é que países de todo o planeta já sentem os impactos negativos da mudança climática e da governança ineficiente dos líderes mundiais. O resultado da não responsabilização pelos impactos e a falta de tomada de decisões assertivas causam consequências desastrosas para toda a humanidade.
Chamo a atenção para um dado que salga ainda mais essa conversa: segundo dados do Centro de Monitoramento de Deslocamento Interno (IDMC, 2022), publicados no relatório “Pessoas em movimento sob um clima em mudança”, da Organização Internacional para as Migrações, só em 2021, tivemos 23,7 milhões de novos deslocamentos relacionados a desastres, sendo 22,3 milhões por fenómenos relacionados ao clima, como tempestades, inundações e secas. Esses números traduzem que os impactos adversos das alterações climáticas vão moldar, cada vez mais, os padrões de migração em todos os lugares e, consequentemente, a manutenção social, as questões do trabalho, o acesso à saúde, alimento, atenção social, segurança e muito mais.
O que os investimentos têm a ver com isso? É aí que mora a questão! Sabemos, pela experiência das empresas, que o acesso ao dinheiro diante de emergências é cada vez mais difícil — e caro — especialmente quando essas organizações não contam com uma estratégia de gestão de riscos. Aprendemos, com a pandemia do covid-19, que crise na saúde significa, também, crise financeira e social.
Por falar em financeiro, se você conhece um pouco sobre o ESG sabe que o acrónimo tornou-se muito popular nos últimos anos a partir da mobilização do setor financeiro na necessidade de se gerir o capital considerando, além dos riscos financeiros, os impactos das crises ambientais e sociais nas empresas. Os impactos de uma organização dão origem a riscos e oportunidades ao longo do tempo, sendo inevitável, hoje, pensar em gestão de riscos sem considerar os aspetos socioambientais. Numa frase muito interessante, dita pela presidente do GRACE, Margarida Couto, no evento “Descarbonizar a Economia e Financiar as Empresas”, conseguimos ler este contexto de forma muito clara: ” percebemos para onde o mundo está a ir, quando vemos para onde o dinheiro está a ir”.
As necessidades urgentes do planeta estão muito além de serem solucionadas com vãs demagogias, terminologias ou apenas com dinheiro. A continuidade da vida humana requer mudanças de comportamentos no consumo social, melhores decisões dos governos e instituições e a união de forças que sejam capazes de promover resultados práticos para solucionar os conflitos reais que hoje somos todos expostos.
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Yone Macedo Gomes é doutoranda em Ambiente e Sustentabilidade na Universidade NOVA de Lisboa – (FCT UNL), mestre em Comunicação, Arte e Cultura na Universidade do Minho, pós-graduada no Master of Business Administration em ESG, pelo Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais – IBMEC e graduada em Comunicação Social pelo Universidade Promove de Brasília.
Atua como consultora e estrategista em ESG, Founder do Grupo de Trabalho e Pesquisa ESG e Owner da Cultivar Comunicação.