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Quando analiso o processo de criação da materialidade das organizações, especialmente a construção dos temas materiais, causa uma certa “agonia” a infinidade de ferramentas utilizadas sem uma análise metodológica neste processo. Num artigo publicado recentemente na Harvard Business Review, os autores atiçaram a minha agonia ao pontuarem a relação entre a estratégia e a estratégia certa a ser desenvolvida pelos diretores de sustentabilidade nas empresas. Para os autores, o olhar estratégico na elaboração do processo de materialidade não é somente importante como necessário para atingir os objetivos de forma ética e coerente. Até esse ponto, tudo ok. Porém, conhecemos a estratégia da organização?

A materialidade e a matriz de materialidade são úteis para toda a organização, sendo o princípio orientador para o relatório de sustentabilidade. A popularidade dos reportes não financeiros criou um anseio pelo relato, o que é extremamente positivo. Entretanto, a quantidade de frameworks e standards lançados nos últimos anos não deixa dúvidas da necessidade de se padronizar os relatos de forma sistémica e comparável. Neste sentido, utilizar a estratégia adequada durante o processo de materialidade não significa somente abarcar todos os riscos e oportunidades da organização e endereçá-los. Vai muito além!

A coerência de se publicar o relatório de sustentabilidade, com a publicação do balanço anual da empresa, já diz muito sobre a estratégia correta. Na prática, significa que os compromissos da empresa devem estar atrelados ao seu relato, de forma que os stakeholders consigam referenciar a sua estratégia através da leitura do seu documento. Não adianta desenvolver um excelente relatório de sustentabilidade com dados ESG se a sua estratégia não está alinhada ao seu compromisso. Mas essa é apenas a ponta do iceberg.

Se os diretores de sustentabilidade devem assumir o compromisso de comunicar os temas materiais aliados à estratégia, logo, espera-se que essa estratégia esteja, conjuntamente, alinhada aos desafios reais da organização. Para Robert Eccles e Alison Taylor (2023) é comum notar grandes diferenças entre esses aspetos. Os autores citam como exemplo a incorporação de metas ESG na remuneração de executivos da Marathon Oil, pagos por cumprir as metas climáticas no mesmo ano em que a empresa foi multada por um grande derramamento de óleo.

Pensar de forma estratégica é considerar o espaço-tempo das organizações com um olhar intrínseco para os desafios reais. Tal feito só é possível se considerarmos os fundamentos da empresa que estamos engajados. Quais são as suas fronteiras e de que forma elas afetam o seu desempenho? Essa organização conhece as suas competências essenciais? Qual a compreensão da liderança sobre o futuro dos seus funcionários e do ambiente em que estão? Essas são as primícias básicas mais necessárias para o alinhamento estratégico que dará espaço para a sustentabilidade e o ESG na empresa.

A partir dessa compreensão, e robustecida pela análise metodológica, é que as empresas estarão alinhadas e preparadas para desenvolver a sua estratégia. Sendo assim, a análise metodológica, comum para uns e não tão óbvio para outros, aliada à compreensão das dimensões e interesses da organização, é o que de fato existe entre a materialidade e os processos estratégicos para o ESG. Essa “nova velha” maneira de implantar uma estratégia é o enfoque instrumental que as organizações esperam e dependem para gerir os seus negócios, considerando as variáveis que influenciam os seus objetivos e os seus resultados.


Sugestão de leitura:

The Evolving Role of Chief Sustainability Officers. By Robert G. Eccles and Alison Taylor

Etnografia e cultura organizacional: uma contribuição da antropologia à administração de empresas. Por André Ofenhejm Mascarenhas

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Yone Macedo Gomes é doutoranda em Ambiente e Sustentabilidade na Universidade NOVA de Lisboa – (FCT UNL), mestre em Comunicação, Arte e Cultura na Universidade do Minho, pós-graduada no Master of Business Administration em ESG, pelo Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais – IBMEC e graduada em Comunicação Social pelo Universidade Promove de Brasília.
Atua como consultora e estrategista em ESG, Founder do Grupo de Trabalho e Pesquisa ESG e Owner da Cultivar Comunicação.

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